As vezes eu me pergunto como deve ser existir como outra pessoa.

 Hoje eu não vim aqui pra mostrar nada meu. Não é segredo pra ninguém que eu sou um maluco das artes. Os videogames e os quadrinhos me arrebataram muito cedo e se você já conversou comigo por tempo o suficiente você sabe o quanto essas e outras mídias são importantes pra mim. Eu nasci no meio dos anos noventa e quando eu chegue na internet ela era muito diferente de como é hoje, ninguém se acumulava em lugar nenhum e a metáfora de navegar fazia muito mais sentido do que faz hoje - tanto que hoje em dia ninguém mais fala em navegar na internet. Nos anos 2000 a internet era um lugar ridiculamente entediante, sem nenhum tipo de estrutura mental maluca feita pra mexer com os nossos cérebros e nos fazer sentir felizes e recompensados do jeito nojento e grotesco que só as mídias sociais de grandes corporações capitalistas são capazes de fazer. Houve um tempo em que a internet era autogestionada e os sites eram geridos pelos próprios usuários e de vez em quando, de link em link a gente encontrava alguns tesouros maravilhosos.

Foi navegando pela internet que eu encontrei desenhos de naruto e dragon ball que permeavam a minha imaginação por meses, na casa do Gabriel editávamos desenhos usando o paint, mudando as cores das roupas, dos olhos e fazendo pequenas mudanças nos nossos personagens favoritos. O Gabriel na verdade era um dos meus grandes amigos criativos da adolescência, desenhamos nosso próprio cardgame que só a gente jogava, o Jac-Gab-Oh! A gente era bastante competitivo no Yu-Gi-Oh! da época mas as cartas prontas não eram o suficiente pra nossa imaginação e nem pro nosso senso de estratégia. Cada duelo contava com novas cartas, novas mecânicas e novas maneiras que buscávamos de contra-atacar as melhores invenções um do outro. Naquele tempo a internet e o mundo pareciam um pouco mais mágicos e misteriosos e a gente se divertia como podia, baixando 100MBs por dia e assistindo episódios super comprimidos de Naruto em RMVB.

Foi a partir do antigo Naruto Project que eu encontrei Full Metal Alchemist e fui aos poucos me embrenhando nos mundos do quadrinho japonês. Encontrei os primeiros scanlators brasileiros e li traduções amadoras de Claymore, Hajime no Ippo e uma porrada de outras coisas que foram importantes pra mim. Passeava de site em site em busca dos tesouros que só a internet poderia oferecer. Depois foram chegando os primeiros agregadores e o resto é história. 

Eu não lembro muito bem quando foi, mas a internet já tinha mudado, as grandes empresas já tinha chego e ainda não tinham começado o seu processo de monetização do que antes era um espaço gratuito e eu me encontrei pela primeira vez com um canal do YouTube chamado SuperEyepatchWolf - o super lobo de tapa olho, pra quem não lê inglês - nessa época a gente já tinha algumas propagandas pequenas que apareciam em texto fora da área do vídeo e de alguma maneira esse canal me lembrou um outro tempo na internet e tenho visto os vídeos de lá desde então e me sinto feliz toda a vez em que aparece um vídeo novo e corro pra ver sempre o mais logo e com o máximo de atenção possível. Nem sempre eu consigo ver tudo de uma vez só mas sempre fico feliz quando termino.




A verdade é que com uma frequência muito maior do que eu gostaria de admitir eu penso em desistir de tudo e quando eu digo tudo eu quero dizer tudo. Eu decidi que eu não vou morrer por escolha e isso não significa que eu parei de querer. Por muito tempo tentei encontrar um motivo pra viver fora de mim e no fim das contas não deu muito certo. E de repente, encontrar um maluco na internet que é capaz de falar com tanto amor sobre tantas coisas como esse cara faz me dá um pouco de vontade de ser um pouco como ele. Ser capaz de amar tanto ao ponto de me dedicar como é visto que ele se dedica e me emocionar como sinto que ele se emociona e de talvez um dia conseguir fazer algo que faça alguém se emocionar e pensar e sentir e acreditar que a vida é bonita e que ela vale a pena. E é assim que eu me sinto quando vejo o SuperEyepatchWolf falando sobre as coisas que ele ama e as vezes queria poder encontrar com ele e sentar em um gramado e perguntar como é pra ele viver o resto da vida. Se ele também se sente sozinho e essas coisas. 

Esse cara da internet é um dos motivos de eu acreditar que ainda existe algo a se fazer nesse espaço, porque de verdade ele me inspira e porque me faz sentir que talvez tenha mesmo algo de bom pra se fazer por aqui. Sei lá, ultimamente todo texto nesse blog tem virado algum tipo de desabafo. Me pergunto as vezes como vou me sentir lendo isso daqui a uns anos. Enfim, esse foi o último vídeo do canal em questão e ele me deu muitas ideias e muita vontade de fazer e ser mais do que eu faço e sou, é em inglês mas as traduções automáticas de legenda tão cada vez melhores e talvez dê pra todo mundo assistir. Acho que é isso. 



Comentários