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Crianças Selvagens - 01

Crianças Selvagens. Por Claudio Henrique Vila Nova. I - O meu Trio. Sabe, uma das coisas que interessante quando você é um garoto que não tem literalmente nenhuma personalidade e é completamente medíocre em tudo que você faz é que você passa despercebido em quase qualquer lugar. Nem sempre isso é bom, mas as vezes é ótimo. Eu cresci em uma pequena cidade onde a lei chegou no máximo uns dois ou três anos antes de mim. Eu não nasci lá e cheguei lá no mesmo dia que um outro garoto. Essa história é sobre ele, como ele viveu e o dia em que ele morreu.  Eu não vou escrever o nome dele, um pouco porque não importa e outro pouco porque eu não quero. Mas ele tinha um nome pouco comum que se escrevia de um jeito pouco comum. Quase sempre que alguém perguntava ele soletrava primeiro e dizia o nome depois. Raramente alguém que ouvia era capaz de escrever corretamente e ele preferia evitar o trabalho de falar quando sabia que não ia ser entendido. O pessoal chamava ele de Nerd. No começo chamav

Eu acho idiotice que os festivais exijam que os filmes fiquem escondidos do público.

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Não sei quantas vezes eu já escrevi um texto pra postar aqui com esse filme e todos eles ao mesmo tempo me parecem funcionar e não ao mesmo tempo. Talvez eu tenha um pouco de dificuldade em compreender o que eu quero dizer junto com esse filme, mas agora ele tá pronto e acho que é importante colocar ele no mundo. Talvez eu não queira dizer nada.  Quando defendi o meu trabalho de conclusão de curso tinha muita gente na sala, muita gente chorou e eu estorei o tempo da apresentação em uma meia hora. Eu falo muito e gosto de pensar que não exatamente de maneira verborrágica, gosto de pensar que as minhas palavras significam alguma coisa, acho que alguma coisa fundamental estourou na minha cabeça naquela maldita aula de semiótica onde eu descobri que não sabia ler. A Mônica chorou depois da minha defesa, falou do quanto me achava maneiro e eu fiquei bastante surpreso - não sabia que ela sequer tinha me notado quando fui seu aluno de ilustração. Foi na disciplina dela que descobri o valor de

As vezes eu me pergunto como deve ser existir como outra pessoa.

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 Hoje eu não vim aqui pra mostrar nada meu. Não é segredo pra ninguém que eu sou um maluco das artes. Os videogames e os quadrinhos me arrebataram muito cedo e se você já conversou comigo por tempo o suficiente você sabe o quanto essas e outras mídias são importantes pra mim. Eu nasci no meio dos anos noventa e quando eu chegue na internet ela era muito diferente de como é hoje, ninguém se acumulava em lugar nenhum e a metáfora de navegar fazia muito mais sentido do que faz hoje - tanto que hoje em dia ninguém mais fala em navegar na internet. Nos anos 2000 a internet era um lugar ridiculamente entediante, sem nenhum tipo de estrutura mental maluca feita pra mexer com os nossos cérebros e nos fazer sentir felizes e recompensados do jeito nojento e grotesco que só as mídias sociais de grandes corporações capitalistas são capazes de fazer. Houve um tempo em que a internet era autogestionada e os sites eram geridos pelos próprios usuários e de vez em quando, de link em link a gente encont

Desenho em fluxo de consciência.

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 É um pouco esquisita a sensação de gostar do que machuca. O limite entre o prazer e a dor já é esquisito normalmente e a coisa toda complica um pouco mais quando se é um pouco sádico. Não é todo mundo que sabe, mas o que eu não tenho de visão do presente no meu olho esquerdo eu tenho de visão no futuro. Presente de Apolo.  Passei um tempo muito maior do que gostaria de admitir em pânico. Saber do futuro não é tarefa simples, aprendi a duras penas que é impossível segurar o tempo com as mãos e descobri que o único motivo de evitar algum fim é mudar de caminho. Não enxergo o fim do caminho em que ando e isso me deixa menos maluco. Ver o futuro é uma mistura bastante esquisita de dom com maldição, talvez todas as coisas sejam.  Deslocar o olhar não é uma habilidade muito difícil. A verdade é que fazer mágica não é muito complicado, só tá fora de moda no capitalismo tardio. Um pouco ruim quando a sua principal habilidade é mágica. Nada de mais se você não liga muito pra isso. Aprendi a en

O problema do Alan Moore é que ele é um péssimo mágico.

Eu cresci pelas beiradas, onde esfria mais cedo. É por onde aprendi a comer as comidas mais quentes. Caminho converso e conheço por estradas becos e vielas e escuto e guardo comigo. Gosto de escrever porque é sempre tudo mentira e o grande problema da escrita é que em toda mentira cabe um pouco de verdade.  Ultimamente tenho escrito, ilustrado um livro, planejado vinhetas animadas pra um documentário e letreiros pra outro. Também tenho tentado me manter mais fisicamente ativo, aprender a plantar, construir e me movimentar melhor. Tenho lido muito, pensado muito e fumado uma quantia moderada de maconha levando em conta minha vida até aqui. E pode ser que isso tudo seja mentira. Talvez eu precise de um pseudônimo: Jaquinho Pessoa. Enfim, escrevo bobagens, mentiras e delírios. Dia desses assisti ao recital de uma pessoa que me ajudou com a trilha do Resigno e logo depois de apresentar cada uma de suas músicas, de uma maneira muito singela e gentil ela falava ao microfone: espero que goste

Títulos as vezes modificam a leitura de um texto.

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Eu tinha escrito um texto aqui, sobre coisas que me atormentam, coisas que eu quero e coisas que eu não entendo mas a real é que talvez eu só precise voltar a lutar e tomar uma surra ou duas com o meu corpo pra variar.