Dois textos sobre o meu curta.

Escrevi o primeiro destes textos logo que terminei de pintar esse pôster e aí tive uns problemas digitais cuja resolução demorou tempo o suficiente para que eu escrevesse o segundo texto e fizesse um compilado de imagens pra acompanhá-lo.  





Agora só falta terminar o som e o meu curta novo tá pronto!


É difícil pra mim me sentir satisfeito com o que eu faço. Ainda assim, eu aprendi a perceber quando é a hora de parar. Feito é melhor do que perfeito e não sei o que e não sei que lá. 
As vezes me sinto frustrado por não ter aprendido mais cedo o que eu sei agora. E eu sei que o aprendizado é um processo, que não se nasce sabendo, que a prática leva a perfeição e toda essa ladaia. Existe uma cisão entre o saber e o sentir. Não resta muito a fazer além de aceitar e isso não quer dizer que aceitar não seja difícil.

Nestes últimos dois anos tenho tentado olhar pra mim mesmo. Pro que consigo, pro que não consigo, pro que tenho, pro que me falta, pro que ofereço, pro que preciso, pro que sou, pro que tenho, pro que sinto, pro que sei, pro que fizeram comigo, pro que eu fiz com isso, pro que eu guardo, pro que eu descarto, pro que eu percebo e pro que eu ignoro.

Óbvio que nem tudo é só aprendizado e trabalho interno. Se tem uma coisa que transforma a vida essa coisa é a existência de condições materiais para a mudança. Nem tudo é falta de conhecimento. Se tem uma coisa que impede que a vida se transforme essa coisa é a falta de condições materiais para a mudança. Viver é complicado e as vezes a única escolha possível é aceitar a vida e fazer o possível com ela. 



Quase um making off


Uma coisa ou outra sempre acaba atrasando o meu cronograma ideal mas aos poucos tudo vai se encaixando. Eu escrevi um pouco sobre o começo deste projeto nessa postagem aqui e achei justo escrever um pouco sobre o que se seguiu do processo até agora.

Trabalhar sozinho tem um clima de solidão bastante específico e eu sinto que essa produção foi e está sendo um longo processo de auto-enfrentamento.  Aprendi muito com esse projeto - o que na minha própria linguagem quer dizer que eu cometi uma carreta de vacilos e que mesmo que eu não tenha sido capaz de corrigir alguns deles, eu consegui entender como e porquê eles aconteceram. O que é importante pra não repetir os mesmos erros no futuro. 

Comecei trabalhando no que eu decidi chamar de rascunho da animação. Mapeando as principais cenas e movimentos com um desenho bem simples pra entender os timings e o sequenciamento das cenas. Isso foi importante inclusive pra que eu pudesse sentir o desenvolvimento do projeto e ver que eu de fato estava construindo algo, mesmo que até o momento fossem apenas uns rabiscos se movendo. 

Aí vieram os primeiros passes na animação e foi neles que eu cometi o maior número de vacílos. Como eu nunca tinha animado um projeto desse tamanho eu não sabia exatamente o que precisava ser rascunhado ou o que precisava ser resolvido ou não já nessa etapa e isso acabou me gastando uma quantia de tempo e trabalho maior do que o necessários enquanto ainda me dificultou alguns processos nas etapas seguintes. Aqui eu também deixei a imaginação correr solta! Eu queria algumas cenas maneiras e me dediquei um pouco à isso. Mais trabalho!

Toda a animação foi construída usando o OpenToonz, é um programa de animação gratuíto e de código aberto desenvolvido pela Dwango e que já foi usado na produção de filmes como a Princesa Mononoke, Ponyo, Anastasia e na série Futurama. Ele tem lá os seus problemas, mas nada que não seja contornável. 

No meio disso tudo tiveram doenças, viagens, trabalhos, sentimentos e uma série de outras coisas que complicaram o desenvolvimento do projeto mas que de certa forma fazem parte dele também. Meus vacilos na etapa de rascunhos vieram puxar o meu pé na hora de fazer as linhas, isso deixou essa parte do trabalho muito mais complicada do que deveria e eu dei uma desanimada legal. 

O que me fez engrenar de vez com o projeto de novo foi a realização do que eu acho que já era um sonho antigo e que por muito tempo pareceu distante de mais pra mim. A compra de uma daquelas telinhas de desenhar! Eu tava com a mesma mesa introdutória, sem display e pequenininha da wacom desde 2018 e eu nunca tinha conseguido fazer desenhos de linha com ela direito - inclusive esse foi um dos motivos de eu ter me dedicado tanto a pintura digital de quando comprei ela até o momento de comprar a tela nova. A chegada do monitor de desenho revolucionou a minha capacidade de desenhar linhas no computador e experimentar com ele se tornou também um motivador importante pra terminar de vez a animação desse curta.

Essa etapa das linhas teve também mais uma quantia considerável de vacilos. Eu ainda tava me acostumando com os processos da animação tradigital e perdi várias oportunidades de poupar trabalho, assim como também tomei algumas decisões que funcionavam muito bem a nível de linha e que me atrapalharam um pouco na etapa de cores. É difícil pensar em larga escala. Mas depois disso foi só sorriso por um bom tempo. Alguns detalhes das linhas se perderam na hora de implementar as cores, mas a essa altura eu já tava me acostumando melhor com encontrar e lidar com o resultado dos meus próprios erros. 

Colorir pra mim é sempre uma das partes mais legais, sinto que o movimento ganha força com as cores e a adição das luzes e sombras da um corpo muito específico para o desenho. Me diverti cortando formas, desenhando com cores os volumes do personagem e vendo aos poucos esse projeto chegar cada vez mais perto de sua forma final. 

Agora só falta o som. Passei um bom tempo pensando no que e em como fazer com a trilha e depois de muito pensar resolvi passar esse trabalho adiante. Convidei a Lorena pra participar do projeto e trazer um pouco dos seus - interessantíssimos - experimentos com música eletrônica analógica para o projeto. Tô me concentrando na ambientação sonora e em corrigir alguns pequenos erros de montagem. Logo logo esse curta sai. 

*eu tinha pensado em postar os processos dessa animação junto desses textos mas vou deixar pra postar isso depois que o filme tiver pronto e no mundo, pra não estragar a surpresa. 

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