Eu não quero precisar me impor pra ser ouvido.
Dia desses me peguei pensando que queria ser um pouco como Clarice. Ter experiências ridiculamente profundas e transformadoras através da banalidade do dia-a-dia. Tenho a impressão de que logo mais eu chego lá.
Muito tempo atrás a Luiza me perguntou sobre o que eu fazia pra me sentir eufórico e eu disse que euforia não era uma coisa que eu sentia com muita frequência. Caminho com os gatos pelo mato e é só mais um dia. Ouvi em uma entrevista esses dias que pra que a gente se sinta satisfeito com a própria vida a gente precisa gostar das nossas quartas-feiras, das coisas que se repetem, do nosso cotidiano. Pensei no Michel de Certeau e em como ele é um desses escritores em quem eu gostaria de poder dar uma surra.
Tenho observado as plantas crescendo, uma olhadinha todos os dias no trigo, na aveia, na cebola, nos alfaces, nos tomates e no arvoredo. Tenho olhado as flores virando frutos e visto os frutos caírem com o tempo. Tenho descascado laranjas e deixado o tempo deslizar pela pele. Tenho me sentido um pouco desconfortável com o trabalho e aprendido com isso. Tenho comido, dormido e me exercitado tanto quanto quero. Tenho refletido sobre a minha posição no mundo e o que quero fazer com ela. Tenho encontrado soluções pra problemas complexos e tenho aceitado cada dia melhor tudo que tem acontecido.
Levanto da cama porque quero não porque preciso e isso faz uma diferença enorme.
Comentários
Postar um comentário