Pensamentos vagamente relacionados aos desenhos mais recentes.
Inimigo mesmo eu tive um
tava no espelho e o resto que veio depois
eu tratei como adversário
Esse verso é do grafite e várias outras versões dessa mesma ideia tem me alcançado de novo e de novo e de novo nos últimos tempos. Tava lendo os capítulos que saíram traduzidos essa semana de Ryuu to Cameleon e de repente tava lá o protagonista lutando contra ele mesmo. Comecei um curso de teatro e tem sido bastante divertido, ontem em um exercício acabou sobrando pra mim atuar com raiva e acho um pouco engraçado como eu e a raiva somos íntimos de uma maneira muito específica.
Eu amo muito desenhar e quero desenhar cada vez mais na minha vida e muito provavelmente com cada vez menos compromisso, gosto de desenhar quando não vou ser avaliado, quando não tenho nenhum prazo pra cumprir e principalmente quando o único motivo pelo qual desenho é o desenhar. Não sei se presto muito pra essa coisa toda de trabalhar com arte e não acho que isso faça de mim menos artista.
Esse ano eu ilustrei um livro e fiz umas animações pra um documentário que vieram com uma mistura de alegria e sofrimento. Em algum momento ao longo do processo minha cabeça entrou no modo "TENHO QUE FAZER ISSO!" e esse é o meu pior modo. Coisas que normalmente são fáceis pra mim foram ficando cada vez mais difíceis e a minha energia foi drenando de uma maneira que nunca tinha me acontecido. Cerrei os dentes e trabalhei. Fiz o melhor que pude nas condições que tive e é muito difícil pra mim estender compreensão à mim mesmo, essa é uma das coisas nas quais tenho tentado trabalhar recentemente.
Já fui derrotado muitas vezes e de muitas maneiras diferentes e em muitos tipos diferentes de batalha e apesar de já ter pensado muitas vezes nisso, ainda não desisti. Acho que perseverança é meu nome do meio e mesmo que talvez a única capacidade que eu tenha que está em par da minha perseverança seja a tolerância à dor - inclusive não sei se existe uma sem a outra - tenho me esforçado pra que minhas outras capacidades eventualmente alcancem essas duas e fico feliz em perceber aos poucos os resultados. A poucos anos atrás eu tinha vergonha de o quão pouco flexível eu era e vez ou outra alguém me zoava por não conseguir encostar na ponta dos meus pés. Hoje percebo as pessoas impressionadas quando me alongo na rua e de vez em quando escuto um elogio ou dois. Sempre tive pouca vitalidade e isso também era um coisa que costumava me incomodar bastante, tenho introduzido cada vez mais a atividade física na minha rotina e as vezes perceber que já não perco mais a respiração ao correr ou que consigo sustentar o peso do meu corpo de várias formas diferentes tem me feito perceber o quão útil é a perseverança.
No meio dessas coisas todas, senti que queria ter desenhado mais pra mim. Amo muito desenhar e tenho ficado feliz em também conseguir acompanhar o meu próprio progresso nos últimos tempos. Esse blog começou como uma maneira de me ajudar a ver o que faço com mais clareza e acho que tem funcionado.
Todos os dias tento fazer sempre o melhor que já fiz até agora e torço pra que o que faço hoje seja o pior que vou fazer daqui pra frente. Mesmo que melhor e pior sejam categorias complicadas e um pouco incertas. O ponto é que no momento exato em que eu termino quase qualquer coisa a única coisa em que eu consigo pensar é em como fazer isso melhor da próxima vez o que é legal as vezes e que também é bem frustrante. Eu tava adiando trazer os desenhos mais recentes pra cá porque muitos deles pararam nas fases iniciais porque eu tava fazendo várias outras coisas e tive menos tempo pra desenhar do que gostaria de ter tido.
Tem um outro momento que as vezes eu lembro que na época foi meio nada de mais pra mim mas lembro que fez o Enzo rir bastante. Não vou contar qual foi mas as vezes eu esqueço um pouco que não ligo pra muitas coisas e preciso me lembrar disso com uma certa frequência.
Dito tudo isso, tava olhando esses desenhos de novo e fico feliz em ver como a minha escolha de cores tem funcionado bastante, como eu tenho acertado cada vez um pouco mais no tipo de tridimensionalidade que gosto e como esses personagens tem saído divertidos. Também gosto bastante de muita coisa que fiz pro livro e pro documentário e eventualmente quero escrever com calma sobre isso e trazer pra cá também o que é possível de trazer - o Repolho quer segurar as coisas do filme pra passar em festivais e essas coisas. As vezes eu esqueço do quanto de desenho que tem em cada cena animada e sempre que tô animando sinto que desenho pouco porque acabo não vendo muito o volume de desenhos e eu preciso ver pra perceber as vezes.
Também não desenhei quase nada no meu caderno esse ano, viajei menos e fiquei menos tempo com amigos que desenham - e normalmente esses são os momentos em que mais desenho nele. Tenho sentido um pouco de saudades de ir pra alguma cidade e ficar um pouco de bobeira na rua olhando as coisas e fazendo um rabisco ou dois - quero me organizar pra poder fazer mais disso. Em resumo, sei que ainda não cheguei aonde quero e sei que tenho caminhado todos os dias nessa direção, tenho treinado todas as coisas nas quais quero melhorar e mesmo que pequenos, tenho notado meus progressos. Daqui a uns dois anos já vou estar bem melhor e daqui a uns dez literalmente ninguém me segura mais.
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