E no meio disso tudo eu desenho.

 Acho que nunca aprendi tanto na minha vida inteira como aprendi nos últimos meses e isso quer dizer que eu sofri muito. Ninguém nunca me ensinou muita coisa enquanto eu crescia e depois de adulto então, tirando alguns professores da graduação, ninguém nunca teve muita paciência comigo. Nunca entendi se é por causa da minha fala, da minha postura ou de quê, mas quase todo mundo espera que eu já saiba de tudo. E a verdade é que pra mim, aprender é bem difícil. 

No ano passado eu perdi tudo que havia se tornado central na minha vida e desandei. Perdi uns sete quilos só de tristeza e falhei horrores com os meus amigos nos projetos que nos propomos a encarar juntos porque por alguns dias eu não conseguia fazer nada além de chorar. Fracassamos em todos os projetos inclusive, eventualmente falo disso por aqui. 

O que me restou foi a bicicleta antiga da minha mãe e as minhas pernas. Precisei sair de casa em todos os momentos possíveis por alguns bons dias pra poder fazer alguma coisa além de sofrer e foi maravilhoso. Fui acolhido de maneira ímpar em uma casinha com muitos cachorros e no melhor bar do brasil por pessoas que me mostraram, me ensinaram e me encorajaram muito mais do que eu podia ter imaginado ou esperado. Fiz amigos novos e reencontrei amigos antigos. 

Pedalei em algumas noites mais do que acho que já tinha pedalado na minha vida inteira. Dancei como nunca tinha dançado. Bebi, fumei e conversei com estranhos e conhecidos. Descobri mais do mundo e de mim mesmo e percebi que nem a maior tristeza que eu já senti me impede de aproveitar a sorte que eu tenho e de perceber um dia bonito. 

Ganhei apelidos, alcunhas, bebidas, poemas, ditados, livros, jantares e memórias que vão me fazer sorrir pro resto da vida. A Geminy, o João, o Repolho, a Angélica, o Nadico, o Dênis, a Gleici, a Bibi, o Mali, a Ivana, o Vitor, a Bruna, o Rafinha e todas as outras pessoas com quem eu não cheguei a dividir uma mesa mas que compartilharam um pouco desse tempo comigo no litoral norte de SC foram essênciais pra que eu reencontrasse partes de mim que fazia muito tempo que eu não via. 

Isso sem contar com o Vicente, com o Pedro e com a Luiza que alternaram em me atender nos dias em que a tristeza era forte de mais pra matar no peito e que me ofereceram todo o acolhimento e o cuidado possíveis mesmo com os próprios maremotos. A Bárbara também me ajudou bastante no começo mas com ela as coisas são um pouco mais complicadas. Também preciso falar da minha mãe que me acolheu do jeitinho dela e fez o possível pra me ajudar de onde estava e do meu pai que me ofereceu apoio no espaço que ocupo agora. 

Ainda não me recuperei e as vezes penso que talvez eu nunca me recupere. Perdi uma parte de mim e agora vivo sem ela. Por sorte eu já fui aleijado outras vezes e sei muito bem que é possível seguir. Como sei também que não importa o que aconteça o que eu sei não sai de mim.

Esses são alguns dos desenhos que fiz no paint durante esse tempo. Tem mais coisa no meu caderno e eu também pintei uma tela com óleo, que é uma coisa que eu não fazia à muito tempo. Mas hoje, o que vem pra cá são esses desenhos.






























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