As poesias que escrevi antes do ano acabar.
Essa coisa toda de palavra é sempre uma loucura e essa coisa de ser uma pessoa é mais ainda. Cada dia que passa me sinto cada vez menos e mais consistente ao mesmo tempo. Tô lendo a fenomenologia do espírito e é um pouco engraçado como enquanto eu leio sempre parece que eu não tô entendendo nada e ao mesmo tempo é como se a estrutura do meu pensamento tivesse mudando aos poucos, talvez o Hegel seja um ótimo bruxo, talvez seja um grande placebo esquisito. Acho que esse foi o ano em que eu mais li na minha vida inteira e tem sido uma experiência bastante interessante. É legal constatar que existem tipos diferentes de leituras e que alguns livros me seguram por horas a fio ao passo que outros me derrubam de sono após cinco ou dez minutos de leitura. E mais doido ainda é constatar que os primeiros não necessariamente são melhores que os segundos.
É um pouco engraçado que ao mesmo tempo em que a minha obsessão com a coisa toda de identidade diminuiu bastante recentemente tenho sido perseguido por uma tentativa provavelmente inútil de compreender a minha substância como sujeito. E sabendo um pouco sobre Deleuze e a coisa toda do devir eu entendo aonde a modernidade é inimiga da substância ao mesmo tempo em que sinto que existe alguma coisa profundamente importante ali. Pelo menos pra mim. É um pouco engraçado o quanto o Hegel parece taoista enquanto ele descreve a relação entre a coisa em si e o vir a ser se dissolvendo um no outro.
As vezes lembro do Gilgamesh, da ideia de que posso me lembrar de quem sou a qualquer momento associada à ideia de que vou esquecer e sempre sorrio com isso. Inclusive porque acho difícil definir quem eu sou ao mesmo tempo em que é sempre ridiculamente claro pra mim quando não tô agindo como eu mesmo. Me divirto quando lembro porque a real é que eu sou um baita otário. As vezes eu penso sobre como ninguém entendia nem como, nem porque e nem o quanto que eu gostava de mais da conta do Eric no tempo que a gente morou juntos. O moleque era impagável e literalmente a maior diversão do mundo inteiro pra ele era testar o quão otário ele conseguia ser nos ambientes em que ele frequentava sem que ninguém mandasse ele embora e era sempre hilário ver ele interagindo com qualquer pessoa. A gente sempre interagia numa marcha super agressiva usando aquele sorriso de canto de boca de quem sabe que da pra sparrar com as palavras e eu achava engraçado de mais que as outras pessoas que moravam com a gente não entendiam que a gente tava sempre brincando. A real é que eu não sou muito diferente do Eric e em uma série de ambientes eu sou mesmo insuportável porque eu me recuso de uma maneira que eu não sei explicar muito bem à seguir os códigos dos bons costumes.
Gosto de dizer que eu sou gentil feito uma pedra e digo isso pensando nas pedras com as quais fiz amizade enquanto morei no litoral. Aprendi com o Yoga a entender o chão como um amigo que tá sempre ali, que me assegura e que as vezes me machuca se acerto ele com muita força. Penso nas pedras mais ou menos do mesmo jeito e é mais engraçado ser gentil feito uma pedra do que gentil feito o solo, porque também gosto da imagem de jogar pedra e de como a pedra é um agente passivo nessa interação. Escrevi menos poesia nos últimos tempos e ainda assim escrevi algumas.
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