Uma carta aberta.

Encontrei meus cadernos antigos de novo e li algumas das suas dedicatórias. Voltei pra nossa última casa e agora acho que ela já não é mais nossa. Muitas coisas mudaram e a sua decoração ainda tá no seu quarto, mesmo que agora ele seja usado pra guardar ferramentas e a caixa de areia dos gatos que preferem fazer as necessidades na rua. 

Mudei minha mesa pra cozinha, como falei em fazer no último verão que passamos aqui. Fiz a idiotice que eu disse que queria fazer, fiquei completamente maluco, doidão mesmo, deformei toda a minha percepção de realidade e me peguei acreditando em coisas nas quais eu nunca quis acreditar. No fim das contas, a última profecia que fiz na sua frente tava certa mesmo. Sei que você me pediu pra parar mas infelizmente eu não escolho quando enxergo o futuro e nem sempre sou capaz de escolher as palavras que escapam da minha cabeça. Quase nunca sou na verdade.

Tenho lido muito mais livros do que lia antes. Aprendi com você a ler quando não sei o que pensar. Aprendi muita coisa com você, algumas só fizeram sentido depois que você decidiu que não queria mais falar comigo. As vezes eu sinto saudades sem sentir a sua falta. Nunca precisei de você pra viver ou pra me sentir melhor ou pra qualquer outra coisa assim, nunca precisei de você - eu só gostava muito de te ter por perto e de conversar e dividir minha vida contigo e aproveitar as partes da tua vida que tu dividia comigo. 

A gente tinha vidas separadas e elas se afastaram bastante já faz um tempo, cai um tombo feio ano passado. Acho que você teria dado risada se tivesse visto, talvez se sentisse bem, talvez se sinta ao ver o que escapa pelas minhas palavras públicas ou talvez não olhe mesmo pra nada do que faço. Não sei e não tenho como saber.

Me reconectei com muitos amigos e isso tem sido bastante legal. Alguns que tu nem chegou a conhecer e que me fazem muito bem, fiz alguns amigos novos também e agora tenho mais alguns lugares pra visitar de tempos em tempos. Você ia achar eles interessantes, mas não sei se ia entender eles muito bem, acho que é sempre um pouco assim com os meus amigos. Dia desses descobri que uma pessoa que não me conhece muito bem chorou lendo em voz alta um texto que escrevi, me senti feliz.

Descobri muitas coisas sobre mim e sobre como lido com o mundo. Enfim, se eu fosse te contar tudo que aconteceu acho que ia precisar de pelo menos mais uns seis ou sete anos e não vou escrever por tanto tempo assim. Muita coisa mudou e muita coisa permanece. Ainda sorrio com o hang loose do vai ficar tudo bem. Uma pena as coisas terem acontecido como aconteceram. O Clébinho, o Nihonjin-chan e o Papaco foram embora logo depois de você, o Gnolomeu segue por aqui com aquelas porcarias de galochas amarelas e aquela falta de educação características. Algumas coisas nunca mudam.

Espero que as coisas estejam bem contigo e que continuem bem daqui pra frente. Se cuida e se diverte! 


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