Poesia poesia poesia.

 Eu já tinha mais de vinte anos quando percebi que gostava de poesia. Eu já estava no meu segundo amor quando comecei a escrever. Eu precisei chegar no terceiro pra conseguir declamar. Daí em diante a coisa foi ficando mais fácil e eu virei uma máquina de poesia ruim.  Em 2018 eu declamava, de camisa e gravata, em alto e bom som, todas as minhas frustrações com o meu trabalho e a minha vida enquanto fumava pelas calçadas de Pelotas. Parei com o cigarro. Mas nunca parei com a poesia. Não é sempre que escrevo mas eu até que escrevo bastante. Meu improviso já não é mais tão afiado quanto foi enquanto eu estive por Florianópolis. Eu ainda improviso. E eu gosto do que eu escrevo. 

Por um tempo eu tentei disfarçar a minha poesia ou me disfarçar pra fazer poesia. Sempre tive um certo medo de que a minha poesia fosse ruim ou que alguém risse. Nunca fui de mostrar muito pra ninguém. Dia desses eu chorei em uma video chamada: "Nossa amigo, essa é a primeira vez que eu vejo você sendo vulnerável com os seus sentimentos". Merda. Eu não achei que eu mostrasse tão pouco. 

Eu raramente falo mais do que eu preciso e conto quase todas as minhas histórias pela metade. Ando lendo um livro sobre identidade, que junto de uma crise de identidade vem mexendo comigo de uma maneira bastante profunda e li uma parada lá com a qual me identifiquei bastante. Vou parafrasear porque o livro é em gringo. 

"'Eu não sei se quero dizer o que digo, e se soubesse, guardaria isso comigo.' A intenção, a motivação e a significação completas e psicológicas de qualquer coisa que eu diga e o funcionamento completo de minhas operações mentais internas, permanecem opacos também para mim. E mesmo que não fossem, nunca existe uma correspondência completa e exata sobre o que eu sei e o que eu digo e o que é entendido assim que eu tenha dito". 

Talvez a escrita também seja um pouco assim.

Essas são algumas poesias que escrevi mais ou menos nos últimos dois ou três meses em nenhuma ordem em particular. Gosto de pensar que as coisas que eu escrevo são as coisas que eu tinha enquanto escrevia e que já não são as mesmas depois da escrita. 









Comentários

  1. Eu também nunca fui de mostrar muito o meu "por dentro" ~ e olha que nem poesia eu escrevo, então estou ainda mais fechada e impenetrável para o "outro". Fiquei curiosa para saber mais sobre o livro que você está lendo, sobre identidade. Me pareceu ser realmente fascinante.

    Não Me Mande Flores

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    1. O livro chama You and Your Profile: Identity After Authenticity e foi uma das melhores leituras que eu fiz nos últimos tempos, a escrita é bem divertida e os autores usam uma série de exemplos que funcionam muito bem pra discutir cada um dos aspectos de identidade que eles discutem.

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  2. o meu contato com a poesia também foi bem tardio (esse ano k), mas eu nunca cheguei a produzir poesia com o objetivo de ser um poema, então considero que nunca fiz. acho que existe uma beleza em se entregar a arte quando você sofre por amor, mas ela vai ganhando outras profundezas quando se estende a questões de identidade por exemplo, sei lá, complexo.

    eu particularmente gostei do poema com foto de geladeira e me fez pensar sobre o estado de inércia que a gente fica às vezes... mas na real me lembrou sentimentos que eu tive no isolamento (da pandemia), com certeza. é bem sonoro o jogo de palavras! achei bem legal de recitar em voz alta

    enfim, até ;)

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    1. Eu gosto de mais da língua portuguesa e de todos os modos possíveis de falar ela que existem, sinto que é sempre um troço bem particular. Eu não sei as vezes se é porque é mais socialmente aceito ou se é porque a gente é mais incentivado à expressar mas amor é sempre um dos sentimentos mais fáceis de sair. Sinto que as outras coisas as vezes bate mais vergonha ou insegurança ou os dois, tanto com relação à produzir quanto com relação ao mostrar.

      Que massa que cê curtiu, eu gosto muito dessa parte da poesia concreta que tem uma vibe meio Arnaldo Antunes palavras gostosas de falar e levemente relacionadas uma depois da outra. Esses últimos anos tem tido uma vibe bem esquisita de "mais um dia" mesmo.

      Obrigado pela visita, até ^^

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